sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Por que empreendedores são empreendedores?


O raciocínio effectuation, porém, não começa com um objetivo estabelecido e permite o aparecimento de metas, contingenciadas por um conjunto de recursos, ao longo do tempo.

A última edição da revista PEGN trouxe uma entrevista exclusiva com a Profa. Saras Sarasvathy, da Univ. de Virginia, na qual ela explica brevemente os fundamentos por trás da teoria de 'effectuation' que ela desenvolveu e que explica porque empreendedores são empreendedores. Esta semana, a Profa. Sarasvathy está no Brasil para abrir a primeira edição do Roundtable on Entrepreneurship Education Brasil, realizado pela Endeavor em Águas de São Pedro, entre 13 e 15 de Outubro. A seguir, descrevo os princípios fundamentais da teoria 'Effectuation':

Sarasvathy realizou uma ampla pesquisa junto a 30 fundadores de companhias de tamanhos e de indústrias variadas nos EUA para tentar entender os processos por trás da resolução de problemas e transformação de idéias, chegando a princípios baseados uma lógica de racionalidade que ela chamou de raciocínio 'effectuation'.

Segundo sua teoria, as escolas de administração ensinam um raciocínio que ela denominou de 'causation', no qual primeiro se estabelece um objetivo predeterminado e a busca pela alternativa ótima para alcançá-lo. Essa forma de raciocínio é freqüentemente usada no desenvolvimento de estratégias e, no mundo do empreendedorismo, é melhor traduzida como: 'Faça um bom plano de negócios'.

O raciocínio effectuation, porém, não começa com um objetivo estabelecido e permite o aparecimento de metas, contingenciadas por um conjunto de recursos, ao longo do tempo. Este raciocínio é inerentemente criativo, exige imaginação, espontaneidade, tomada de risco e habilidades de venda.

Vamos considerar como os dois processos funcionam num caso simples. Imagine um empreendedor que quer abrir um restaurante indiano. No processo causation, teríamos uma progressão bem linear: pesquisa de mercado na cidade de sua escolha; seleção de um local; segmentação de mercado; seleção de segmentos-alvo; projeto do restaurante; levantamento de fundos; formação de equipe; implementação de estratégias de mercado específicas e gerenciamento as operações diárias.

No processo effectuation, o empreendedor começa a trazer amostras de sua comida indiana para seus colegas de trabalho. Se eles gostam e começam a pedir mais, ele vai trazendo pratos prontos sob encomenda, e assim acaba conseguindo dinheiro o suficiente para alugar um local e começar um restaurante.

Embora tenha vendas, pode ser que o faturamento não seja suficiente para cobrir as despesas, mas o empreendedor descobre que os clientes estão interessados mais na cultura indiana, sua filosofia étnica e experiências. Ele decide, então, investir em: educação, entretenimento, viagens, manufatura e embalagens, vendas, decoração interior, ou mesmo auto-ajuda e motivação até que o negócio se torna viável e próspero.

Resumindo, no causation há um planejamento e um esforço para atingir um objetivo pré-determinado, enquanto no effectuation se toma decisões de acordo com as circunstâncias do momento, sem um caminho pré-estabelecido, o que pode levar a resultados inesperados. Embora o causation seja necessário em um negócio que já está estruturado, no início de um novo negócio é o effectuation que impera, pois há pouca informação e alta incerteza, o que faz com que qualquer planejamento seja inócuo.

Para você saber se o seu raciocínio é causation ou effectuation, imagine-se chegando em casa disposto a preparar o jantar. No causation, você primeiro pensa no que quer fazer, depois vai à despensa para ver se existem todos os ingredientes que precisa e então vai ao supermercado para comprar o que falta. No effectuation, você primeiro vai à despensa para só então pensar em um cardápio que aproveite o que tem.

Portanto, se você não se julga empreendedor porque não é muito afeito a fazer contas e estratégias, não consegue se sentar para pensar no futuro do seu negócio daqui a alguns anos e não tem idéia de como fazer um plano de negócios, nem sequer vontade de começar, não fique triste, pois para compensar, você pode ser uma pessoa cheia de energia e idéias, que não tem medo de trabalhar e muita disposição para 'por a mão na massa', consegue se virar bem com pouco dinheiro, se adapta facilmente às situações que surgem e tem espírito aventureiro para aproveitar bem o que destino lhe reserva.

Se você é deste segundo tipo, do raciocínio effectuation, pode ir em frente com sua idéia de negócio, mas saiba que, em algum momento no futuro, você precisará de um sócio ou contratar um administrador para seguir com o crescimento estruturado da empresa, pois o raciocínio causation também é necessário para o empreendedor.

Portanto, empreendedores são "empreendedores" porque eles acreditam num futuro ainda por ser construído, que pode ser moldado substancialmente por suas ações; e que por isso, não adianta tentar prevê-lo – é muito mais útil entender e trabalhar com as pessoas que estão engajadas nas decisões e ações que o criam.

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