Por Jaime Castelló, Revista Administradores
Como breve descanso dos "papers" acadêmicos do meu doutorado, estes dias fiquei lendo (diga-se de passagem, em formato físico, ou de "árvores mortas", como diz um amigo) o maravilhoso livro de Ben Heinrich, "Why we run: a natural history". Nele, Ben une um destacado biólogo y um bem sucedido corredor de ultramaratonas (distâncias maiores que 50 km) e reflete sobre as razões pelas quais os seres humanos estamos predispostos, física e mentalmente, a correr.
A conclusão a que ele chega é que correr – e, em particular, correr longas distâncias a um ritmo sustentado – foi o que permitiu aos hominídeos encontrar um nicho no feroz ecossistema das savanas africanas há milhões de anos. Não somos tão rápidos quanto um antílope, um leão ou uma hiena, mas podemos escapar de todos, especialmente a pleno sol e em grupo. Esta maneira de caçar teria configurado nosso corpo (bípedes, com visão dianteira, pelo na cabeça, aparelho digestivo pequeno) e desenvolvido nossa mente (paciência, estratégia, trabalho em equipe), e, com o tempo, nos converteu no predador mais feroz do planeta. Ao longo de milhões de anos, e por um lento e doloroso processo de seleção natural, nossa espécie foi se convertendo no que somos agora.
Este pequeno mergulho em um "darwinismo corredor" tem me feito pensar que a evolução das empresas se parece muito com a evolução das espécies (não é à toa que os paradigmas do darwinismo e do mercado se desenvolveram na mesma época e no mesmo contexto. Darwin e David Ricardo, um dos fundadores da escola clássica inglesa de economia política, poderiam ter se cruzado nas ruas de Londres na primeira metade do século XIX).
As empresas nascem do impulso criador e da paixão de um empreendedor, mas seu êxito e sua permanência estão condicionados a saber se adaptar ao mundo em volta, a saber encontrar seu espaço dentro do ecossistema do mercado, assim como nossos antepassados hominídeos forjaram o seu a milhões de anos.
Os tempos, no entanto, são distintos, no sentido de que a evolução das espécies é um processo de milhares de anos, mutação a mutação, que faz com que os recursos que melhor permitem competir passem a fazer parte do genoma da espécie. Ao contrário, as empresas devem e podem se adaptar às mudanças muito mais rápido que os mercados. O que se mantém válido é que as pistas sobre como as empresas e espécies devem evoluir para ser mais competitivas residem no meio: os traços que permitem que a espécie seja mais forte em seu ecossistema permanecem, assim como as estratégias que fazem a empresa mais competitiva em seu mercado.
A chave, então, para o sucesso das companhias, seria "deixar-se evoluir", não só abrindo-se ao mercado (sujeitando-se à dureza do ecossistema), mas também experimentando novas estratégias (algo como provocar mutações) para ver qual é mais eficiente em determinadas circunstâncias. As empresas não têm (sempre) o estímulo da fome para evoluir, e, às vezes, quando esta chega, é tarde demais. Talvez, se pensássemos nas empresas como organismos abertos ao meio, criaríamos organizações cada vez mais ágeis e mais resistentes às mudanças.
Jaime Castelló - profesor associado do Departamento de Direção de Marketing da ESADE Business School (Espanha).
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