domingo, 2 de maio de 2010

Ser Mãe é escolha


Ser mãe não é privilégio, castigo ou premiação. Ser mãe é escolha. Deles, os filhos.

São eles que, após longa busca e rigorosa seleção, escolhem nascer através de você. Sabem que serão paradoxalmente livres, inexatos, inacabados e indecifráveis e só você poderá, apesar de, mesmo que e acima de, amá-los intransitivamente, forever... Sabem que o mundo é louco, perigoso e cheio de armadilhas e precisarão ser salvos a cada instante. Sabem que só você é bipolar; doce e azeda, fada e bruxa, céu e inferno, depende da hora. Velha demais para entendê-los; jovem demais para morrer um dia.


O seu filho escolheu você. Escolheu, porque sabe que, a despeito de não ter receita, você tem os ingredientes necessários para cada fase da vida com ele:

- Auto-estima inabalável. Nos meses de gestação você se transforma num imenso e disforme pedaço de carne com olhos. Duas pessoas em um só corpo. Depois que ele nasce, volta a ser só meia. Seu hábeas corpus desaparece. Só come ou dorme quando ele deixa.

- Rapidez reativa para tirar de sua boca objetos pontiagudos, insetos vivos, materiais tóxicos, lixo e afins. Ufa!... foi por pouco!

- Condicionamento de atleta para sobreviver à fase em que engatinha e anda por terrenos inseguros.

- Grande senso de humor para achar graça quando ele recorta sua Harper's Bazaar para fazer a lição de Artes. Justo a página cujo verso estampava o Mel Gibson... sem camisa!

- Resistência a intermináveis horas de vigília. A noite inteira acordada, perdida numa montanha de Lego, para finalmente, às 6:00 h da matina, hastear a bandeira de caveira no barco pirata, após a última das 1.536 peças.

- Discernimento de prioridade. A cirurgia de miopia, há três meses agendada, terá que esperar. No mesmo dia haverá troca de faixa no judô da escola.

- A insuspeitável capacidade de viver com o coração batendo do lado de fora do peito. Adolescente, o filho insiste em manter sigilo absoluto sobre o seu paradeiro nas intermináveis madrugadas. Ah, que alívio!... o barulho da chave na porta.

- Flexibilidade e tolerância. Depois dos cinco vestibulares, cinco semestres em cinco universidades diferentes, ele já sabe o que quer. Quer ser músico. Tocar sax no bar de um amigo.



Enfim, adulto. Independente, vida feita. É hora de fazer as pazes com o possível. E o possível é a alegria com data marcada. Ele liga no Natal e no Dia das Mães.



(Maria Balé, escritora, fotógrafa, possui a estranha mania de ter fé na vida; colunista do www.primeiroprograma.com.br)

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